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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Feliz dia dos pais



Oi, não sei como começar, mas a verdade é que estou com saudades...
Aqui o tempo anda meio ranzinza, um pouco simpático em alguns dias e totalmente escancarado em outros. Nem parece que estamos no inverno. Tem dias até que faz um calorzinho... Espero que você esteja bem, já que não precisa mais de remédios, nem de repouso e ainda por cima não nos tem por perto para lhe dar trabalho. É só sossego, hein!
Lembra dos atrasados do INSS? Pois, então, está pra sair! Sei que você vai dizer que não acredita, pois já faz vinte e três anos de sua aposentadoria, que o governo enrola para não  pagar, mas o fato é que, dessa vez, a justiça determinou o pagamento imediato, sem demora, sem recursos. Vai sair. Dessa vez sai mesmo. Tô te falando... É, estou rindo também, parece ser bom demais, não é?
Olha, sua nora está bem. Tá fazendo mestrado. Ela não diz, mas tenho certeza de que sente a sua falta. Durona ela... Sua neta mais velha é professora. E você nem a viu se formar... E o seu neto, então?! Precisa ver como ele está garboso. Casou com uma menina de ouro! Você ia se orgulhar dele. Trabalha em fábrica, como você. Agora, outra que ia lhe dar orgulho é a mais nova. Dezesseis anos. Ela está fazendo o último ano do curso técnico de química. Química, como você sempre foi. Interessante, não?
Eu que continuo do mesmo jeito. Não mudei nada... Quer dizer, quase nada. Só estou ficando um pouquinho careca. Só que eu não escondo não. Tô até rapando a cabeça com o pente dois pra ficar bem baixinho. Sinto sua falta também. Muita falta, cara. Às vezes até te vejo entrar pela sala, com aquele sorriso irresistível e o bigodão inconfundível. Esses dias me disseram que estou ficando com a sua cara. Olha só! Eu com a sua cara. Com o seu jeitão. Mas você nem era careca! Tá certo, não precisa revelar agora. Eu sei que você deixava o cabelo crescer pra cobrir as clareiras abertas pelo tempo. Lembra quando você se levantava e não deixava ninguém te ver antes de se pentear? Aqui, ó, deixa eu contar um segredo pra você também. Às vezes, quando eu chegava de madrugada, ia até seu quarto pra pegar o radinho. Você não via, tinha um sono pesado, mas eu passava a mão em sua cabeça pra lhe fazer um carinho. Desculpa, tá? Desculpa... Desculpa... Desculpa por tudo, véio. Hoje eu vejo como é difícil ser pai. Às vezes dói, cara. Você não consegue resolver todos os problemas dos filhos. Como eles são cabeças duras. Tudo eles é que têm razão. Nós estamos ultrapassados. O tempo é outro. É, o tempo é outro. Deles, não o nosso, não é?! Quantas vezes você me falou isso. Quantas vezes eu retruquei. Dá pra você parar de ser egoísta e descer aqui um pouquinho pra me ajudar? O quê? Você já tem ficado do meu lado? Quando? Sempre? Obrigado, então, e feliz dia dos pais pra você. Descanse em paz, meu pai. Te amo, viu?! Qualquer dia a gente vai se encontrar. Beijos!


2 comentários:

  1. O tempo muitas vezes é cruel, nos faz sentir saudades de quem amamos, de quem é ou foi importante para nós, mas muitas vezes esta saudade dói, machuca e nos faz chorar. Os sentimentos se confundem e o nosso coração bate mais forte, a lágrima com medo de cair se esconde, porém a vida continua e o sentimento fica lá escondidinho num cantinho.

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  2. Por isso devemos amar como se fosse o último dia de nossas vidas, não é?

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