Estatelou-se onde estava como um saco de batatas.
─ Vem, filho, prometo que essa é a última tentativa.
Prostrado no banco traseiro do carro, o menino de oito anos sentia o peso da rejeição. A paralisia não era só física, era mental. Com olhar perdido, lembrava-se das cinco escolas que já o haviam rejeitado: “Os pais acham que seu filho não consegue aprender por ser deficiente físico”, ouvira também os pedidos de desculpas pela recusa da matrícula. Não tinha mais forças para reagir. Suas pernas pesavam mais que o normal.
─ Vem, filho, vamos, eu te ajudo.
Deu a mão para o garoto, que resmungou para sair do carro. O pai já lhe passara as muletas. Talvez precisasse de uma também, pois não aguentava mais tanto sofrimento, tanta discriminação contra seu filho. Ele só queria estudar...
Enquanto subiam a rampa, ouviam o soar do sinal. A gritaria anunciou o intervalo. Olhou para o filho e percebeu um brilho diferente nos seus olhos.
Antes de chegarem ao balcão da secretaria, foram envolvidos pelo alarido do recreio. Cheiro de vida... Algumas cadeiras estavam encostadas na parede. À esquerda, podiam ver o pátio. Bastava seguir adiante para sorver o néctar daquele instante. Os dois pararam, olharam.
─ Senta ali, meu amor, enquanto falo com a secretária.
Pôde ainda dar uma última olhada e sentir o arfar do garoto.
─ Por favor, senta...
O filho aquiesceu. Virou-se e foi ao encontro de sua sina.
A menina, sorridente, envolveu-o com mais perguntas. Ele entregou alguns documentos, justificou. Ela se levantou e entrou em outra sala. Virou-se para sorrir, mais um sorriso amarelo, fazer algum gesto para o filho, e não o viu. Seu coração disparou o alerta. Onde estaria o menino?
Saiu correndo em direção à rua, mas não viu nada. Entrou novamente. O porteiro, o qual nem notara, apontou-lhe o centro do pátio. O menino estava lá, cercado de crianças. Quis entrar, mas hesitou. Mil pensamentos devastavam sua mente.
De repente, as crianças se espalharam e uma bola saltou magicamente no meio de todos. De muleta e tudo, o garoto correu como todos atrás de seu prêmio. Levou bolada, chutou o ar, caiu. O pai fez menção de acudir, mas nem deu tempo. Um amiguinho estendeu-lhe as mãos. Ele as segurou. Outro entregou-lhe as muletas. Ele se aprumou, espanou a poeira e sorriu para o pai que tentava, em vão, disfarçar as lágrimas que rolavam em sua face.
A secretária estava bem atrás com os papéis para a matrícula do menino.
Essa é uma das suas crônicas que eu mais gosto, muito linda!!
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