Gafanhoto estava triste. Isolara-se de todo o grupo. Pensava na vida, em suas convicções, em suas atitudes. A figura de Mestre Zen ora ganhava proporções gigantescas em sua mente, ora diminuía até sumir. Visualizava ainda aquele episódio da Pedra e sentia calafrios, enjoos. Espasmos figadais secretavam-lhe líquidos biliares.
Como compreender o intangível? Como conseguir enxergar o manto diáfano que envolve as relações humanas, tocá-lo com carinho sem esgarçá-lo ou maculá-lo? Como entender a ética e a moral que envolvem um grupo?
Uma barata passou sobre seus pés. Ele a olhou e, por um instante, sua alma foi inundada pela inveja. Eta vida boa... Gafanhoto respeitava a natureza. Queria ser uma barata naquele momento. Antes de seguir seu caminho, o inseto parece tê-lo cumprimentado. Gafanhoto ameaçou dar um tchauzinho, mas foi surpreendido pelo gesto tosco de um lagarto. Num golpe certeiro, com sua língua peganhenta, o réptil imobilizou e em seguida engoliu aquele animalzinho indefeso, sumindo na mata. Eta vida besta...
Voltou, então, aos seus solilóquios e, de tão absorto que estava, nem viu mestre Zen materializar-se a sua frente.
─ Por que não meditaste na Grande Pedra, Gafanhoto?
A voz gutural despertou Gafanhoto que não se assustou. Lentamente, levantou a cabeça e encarou o mestre. Ainda estava com vergonha, por isso não o procurara.
─ Desculpe-me, Mestre. Estou confuso com tudo o que tem acontecido.
─ Tu não podes fugir da vida, meu filho. Aprenda com ela. Veja aquele galho retorcido. Achas mesmo que ele quis ficar daquele jeito? Não! Teve de lutar contra os obstáculos para continuar sua sina de galho e encontrar a luz. Repare que alguns nós foram se formando, conforme as voltas dadas por ele, em função dos desvios. Isso o fez mais robusto em alguns pontos. Isso o sustenta e lhe dá forças para atingir o infinito.
─ É, mestre, ele está mais alto que os outros.
─ Notaste que dele brotaram alguns ramos bem mais fortes que os dos outros galhos? Gafanhoto, os obstáculos não podem nos atrapalhar em nossa caminhada. As dificuldades não nos devem barrar em nossas conquistas. Os erros não nos devem ser motivos de vergonha.
Uma lágrima rolou na face de Gafanhoto que nem havia percebido Mestre Zen já do seu lado. Rosto colado ao de Gafanhoto, o mestre acariciava-lhe a cabeça. Os dois levitaram. De longe podia-se ver a luz que emanava daqueles seres.
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