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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Reforma da Casa


A família vivia reclamando do tamanho da casa. Cômodos pequenos, maldistribuídos, totalmente insalubres. Estressante!
─ Falta ar, pai. A luz nem entra pelas janelas, os ácaros estão fazendo a festa...
─ Mas também a população só aumenta!!! ─ bradou irritado, num misto de resignação e indignação.
Realmente ele tinha razão. Quando construíra, eram só ele, a esposa e um casal de filhos pequenos. Dois quartos bastaram. Sala, cozinha e banheiro completavam aquele lar feliz. Sobrara até um quintalzinho para o lazer no terreno cinco por vinte metros.
Mas o tempo passa, o tempo voa e a família brasileira vai aumentando numa boa. A caçulinha chegou e desestabilizou tudo. Puxadinho pra cá, esticadinho pra lá. Ideia de um, palpite de outros.
Meninas formosas, garoto garboso... Pronto! Depois de quinze anos, eram oito convivendo num espaço “projetado” para quatro. Fora os dias de festa ─ aniversários, Natal, Ano Novo...
Reforma! Como não havia espaço, tiveram de se mudar para uma casa de aluguel. Quebra aqui, estica acolá. Sobe sobrado para alojar os quartos. Sala de estar, sala de jantar, dois banheiros, um escritório...
─ Escritório não dá. Dinheiro é igual manga de colete, gente.
─ Tá bom, mas sobra espaço prum churrasquinho na laje?
─ Claro, a churrasqueira já está projetada.
Depois de um ano e meio e muita neurose, a mudança da volta. Casa nova, novos cômodos, novos móveis, dívidas novas. Espaço Vip, festas chiques, gente em dobro, despesas que sobram.
Agora, as necessidades esbarravam na falta de dinheiro. As vontades sucumbiam nas contas de água, luz, telefone, etc., etc., etc. E pensar que sua mãe dizia que onde come um, comem dez... O negócio era dividir as despesas. Reunião de família!
─ Sabe o que que é, sogrão, estamos construindo nossa casinha...
─ Eu to mudando de emprego, pai. Tenho que ter um tempo pra me estabilizar...
─ E, você se esqueceu que eu ainda to estudando, paizinho. Aliás, foi bom falar nisso. Preciso conversar com você sobre minha formatura...
Olhou para os outros, mas nem os deixou falar. Calado, pegou a esposa pelas mãos e saiu. Todos ficaram sem reação.
─ Será que o coroa pirou, gente?!?!
No dia seguinte, ele e a esposa se mudaram para uma quitinete no centro da cidade. Da sacada observava a praça principal. Inspirava o ar, abrindo os braços, quando a esposa chegou, abraçou-o e sussurrou em seu ouvido.
─ Tá na hora do almoço, amor...
Ele sorriu como há muito não sorria. Virou-se e a abraçou. Beijou-a como há muito não a beijava. Olhou bem no fundo de seus olhos, pegou-a no colo e sumiu porta adentro em gargalhadas que se perderam no ar.
Era primavera. Pombinhos arrulhavam no telhado.

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