Quem já passou por aqui

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Último encontro


Pronto! Sua intuição não falhara. Percebera desde o instante do chamado que aquele seria o último encontro. A voz soara firme no telefone, decidida. Pensara em não ir, mas fugir não resolveria a questão. Teve de encarar.
Ela sorriu um sorriso amarelo, sentou-se, enrolou-se no lençol e ajeitou o edredom para cobrir-lhe as vergonhas. Parecia querer se proteger. Parecia querer repulsá-lo. Ela se levantou, ele permaneceu deitado. Olhava para o nada. Buscava o infinito.
─ Vou pro banho...
A voz estava anêmica. Soou-lhe débil: Vou pro banho ─ açoitou o ar, ecoando em sua mente vazia que repetia insistentemente.
A cama assustava, agora. Era uma roda-gigante, prestes a engoli-lo. O quarto o oprimia. Levantou-se também e foi espiar a janela. Uma chuva fina esfriava aquele momento.  Resolveu ir para o banheiro. A porta estava trancada. Sentiu sua boca secar. A pouca saliva rasgava sua garganta explodindo em sua alma. Pegou o copo d’água gelada e tomou um gole. Sentiu um calafrio...
Não ouvia mais o barulho do chuveiro, apenas o da chuva intermitente, entremeada pelo suave rosnar de trovões que não o assustavam, apenas o repreendiam. Sem cigarro, sem bebida, sem nada a que se apegar.
Sentou-se numa poltrona que o aguardava defronte à cama e a viu sair do banheiro enrolada na toalha. Como era linda aquela mulher! Por um instante teve vontade de agarrá-la. Ela se retraiu e cruzou os braços apertando os seios enquanto caminhava. Passou por ele com cuidado e seguiu em direção a suas roupas penduradas no mancebo. Parou e lançou-lhe um olhar complacente. Ele se levantou e foi para o banho.
A água na cara, o cabelo escorrido, o sabonete sem cheiro. A toalha felpuda, a escova de dente com pasta, o espelho sem rosto, a privada... Saiu de cueca. Ela já estava pronta. Apenas retocava a maquiagem. O cheiro do quarto lhe dava enjoos.
─ Já pedi a conta.
Ele nem respondeu. A campainha tocou. Foi até a antessala, abriu a janelinha e pagou com o cartão. Nem viu o rosto da atendente. Voltou amassando o recibo com a mão.
─ Não vai se vestir? ─ olhando para o relógio.
Ele olhou-a com indiferença. Pegou suas tralhas e foi se trocar no banheiro.
Saíram calados. O trajeto pareceu-lhe mais longo. O carro parou na praça central. Não se falaram mais, não se olharam mais, não se beijaram mais. Ela abriu a porta e desceu. Pôde ainda vê-la pelo retrovisor se afastando. Gesticulava e falava com os conhecidos. Às vezes parava e gargalhava com alguém. Em nenhum momento, olhou para trás.

Nenhum comentário:

Postar um comentário