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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Presente de Natal

─ O senhor me dá um celular novo?
─ Você foi um bom menino esse ano?
─ Claro! Não briguei com meus irmãos, fiz todas as tarefas na escola...
─ Mas você foi obediente para seus pais?
─ O senhor anda distraído, hein Papai-Noel?! O senhor sabe que eu não tenho nem pai nem mãe.
─ Ah! É verdade...
─ Então o senhor dá? E me dá um videogame? E um MP3 também...
─ Calma, menino. Tá pensando que Papai-Noel é Rico? Tem os pedidos dos seus irmãos, mas já que foi um bom menino, eu deixo você escolher um desses presentes que me falou.
O menino pensou.
─ Mas...
─ Apenas um. E corre que eu estou atrasado. Tenho que atender outras crianças.
─ O senhor pode me dizer o que os meus irmãos escolheram?
─ Isso não posso, não. É um segredo de Papai-Noel com quem faz o pedido.
─ Então ninguém vai saber o que eu vou ganhar?
─ Não!
─ Sabe Papai-Noel, se eu pudesse trocar, eu pediria pro senhor me apresentar para os meus pais. Eu queria conhecer eles. Será que minha mãe é bonita? E o meu pai, como é que ele é?
Seus olhos ficaram marejados. A cabeça arqueou.
─ Fica assim não, meu filho. Você ainda vai conhecer seus pais. Sabe de uma coisa?
─ O quê?
─ Olhe pra mim... Isso. Tem muita gente como você que também não conhece os pais. Nós mesmos não conhecemos o nosso Pai e sentimos a presença dele o tempo todo do nosso lado. Basta fechar os olhos... Se preferir, olhe a natureza. Nosso Pai está em todo o lugar.
O menino fechara seus olhos e parecia resignar-se com o sentimento que o inundara. Um sorriso tingiu sua face dura, aliviando sua expressão.
─ Vamos, Beto...
A voz conhecida no orfanato soou firme atrás de si. Ele virou-se para a porta. Ainda estava de joelhos.
─ Já vou... Só um minutinho...
─ O pessoal está esperando. Só falta você, Roberto Carlos.
─ Já sei... Só um minutinho...
─ Você não está com aquela mania de falar sozinho de novo, não é menino?!
─ Claro que não, tia. Já disse. Já vou.
A mulher olhou para o quarto e não viu outra pessoa. Apenas beliches vazios envolviam o garoto. Talvez estivesse rezando. Virou-se, fechando a porta atrás de si.
─ Bem, vou ter que ir Papai-Noel. O pessoal está todo reunido para a prece antes da ceia. Tchau e obrigado por tudo.
E, trocando de lado, respondeu para si mesmo.
─ Vai com Deus, meu filho. Vai com Deus!


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